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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

UM TEXTO PERTINENTE: A inclusão e expressão dos surdos por meio da arte


Cena da animação "Coisa Estranha" (stop motiom - massinha) realizada pelos alunos da turma de Animação do Núcleo de Artes Grande Otelo/profa. Imaculada Conceição (2o.sem./2009)

Trabalhei ano passado, 2009, Arte-animação com uma turma de deficientes auditivos. O colega prof. Jabim Nunes, da oficina de Pintura, enviou-me este pertinente texto do blog ACESSO: BLOG DA DEMOCRETIZAÇÃO CULTURAL que gostaria de compartilhar(1). Em breve, pretendo postar sobre minhas primeiras experiências em Arte Animação.
[Imaculada Conceição]

A inclusão e expressão dos surdos por meio da arte
Por Heloisa Bezerra
09/2009





Eles são mais de cinco milhões de pessoas no Brasil, segundo o censo do IBGE realizado no ano 2000. Diariamente, enfrentam uma série de dificuldades relacionadas à comunicação, pois sua língua materna não é o português. Nem todos compreendem a língua portuguesa. Comunicam-se através de Libras, a Língua Brasileira de Sinais, uma das línguas oficiais do Brasil. Comemoram, no dia 26 de setembro, o Dia Nacional do Surdo, data que marca a luta da comunidade surda por inclusão e acessibilidade e que presta uma homenagem à inauguração do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), primeira escola brasileira voltada para o ensino de surdos, fundada em 1857.
No Brasil, a comunidade surda, apesar de numerosa, é pouco percebida pela sociedade. Por barreiras linguísticas, os surdos muitas vezes são impossibilitados de exercerem a sua cidadania. Como participar de uma audiência pública se não há interpretes disponíveis? Ou, ainda, como ter acesso a serviços básicos e garantidos pela Constituição como saúde e educação se nas escolas, nos hospitais e postos médicos há uma deficiência de profissionais que sabem Libras ou que são capacitados para a interpretação? Assim, os surdos tornam-se estrangeiros em seu próprio país.
Em 2005, foi editado o decreto n 5.626, que regulamenta a lei n 10.436 e trata da garantia do direito à educação por meio da língua de sinais, instituindo a presença obrigatória de intérpretes em estabelecimentos públicos de ensino, a fim de possibilitar o aprendizado de alunos surdos. Na prática, entretanto, isso nem sempre acontece. Além disso, poucos professores sabem Libras e são capacitados para trabalhar com metodologias adequadas para o ensino de surdos. Crianças surdas devem ser alfabetizadas primeiro em Libras – sua língua materna – e depois em português para facilitar o processo cognitivo de aprendizado. Essa deficiência do sistema de ensino contribui com a construção de um abismo entre surdos e ouvintes, visto que torna ainda mais difícil o aprendizado da língua portuguesa para os primeiros.
Nesse contexto, as artes, sobretudo as visuais, surgem como um canal capaz de gerar mudanças. A imagem, concebida pela fotografia, por vídeos ou pinturas, por exemplo, pode ser utilizada como uma poderosa ferramenta pedagógica e comunicacional. Ela comunica a partir do momento em que é pensada, produzida, até quando é contemplada por outras pessoas, ocasionando reações, reflexões e sentimentos distintos. No caso de pessoas surdas, os estímulos visuais são ainda mais importantes, pois são sua principal forma de comunicação com o mundo, já que seus olhos fazem também o papel dos ouvidos. Além disso, a participação em atividades culturais estimula a criatividade e o pensamento crítico, contribuindo com o desenvolvimento de cada um.
Com a criação de imagens e a divulgação das mesmas, pessoas surdas assumem o papel de produtoras de bens culturais. Elas passam, assim, a inserir seus discursos na sociedade, dando visibilidade a temas que lhe são importantes, expondo suas ideias e concepções de mundo. Por meio da arte, os surdos dialogam não só com os seus familiares e pessoas próximas, mas também com a sociedade na qual estão inseridos. Isso toma proporções ainda maiores com a internet, que ultrapassa qualquer fronteira geográfica. Há, dessa forma, uma democratização da informação, através da inserção do discurso de grupos que historicamente são excluídos dos meios tradicionais de comunicação. Por isso, é de extrema importância a criação e desenvolvimento de iniciativas que se utilizem da arte para garantir a inclusão de pessoas com deficiência.
Por último, a democratização da cultura enriquece a produção cultural do País e traz benefícios a todos. Este é, no entanto, apenas o primeiro passo na busca de um modelo de sociedade mais justo. É preciso perceber a necessidade de criar oportunidades para que as pessoas cresçam, ocasionando, consequentemente, o desenvolvimento da sociedade como um todo. Não é apenas conviver com a diferença, mas valorizá-la.

Heloisa Bezerra é formada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco.

Trabalha como assessora de comunicação no FotoLibras, projeto de fotografia participativa com surdos que utiliza a fotografia como meio de expressão e comunicação, a fim de aumentar a visibilidade e a inclusão da comunidade surda na sociedade.

Colaborou com este artigo André Luiz Lemos de Souza, coordenador surdo do FotoLibras, que foi aluno do curso de fotografia oferecido pelo projeto em 2007.

Crédito foto: Graciliano Paes – aluno da primeira turma FotoLibras (2007)

NOTA

(1) ACESSO: BLOG DA DEMOCRETIZAÇÃO CULTURAL: http://www.blogacesso.com.br/?p=1563 A foto que abre a postagem é detalhe de uma das animações feitas por meus alunos da turma de deficientes auditivos ("Coisa Estranha", 2o. sem.2009). A foto (de Gracilianos Paes) que acompanha originalmente o texto vem abaixo do título e autoria.

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