Páginas

terça-feira, 19 de junho de 2012

Uma Experiência do Passeio Cultural Caminhos do Rio



O espaço urbano é um dos mais eloquentes registros da historia de nossa sociedade. Como os documentos escritos, também as construções representam testemunhos de um tempo que passou" (Renata de  Faria Pereira).
Nossa cidade do Rio de Janeiro é a sede da Rio + 20 - Conferência das Nações Unidas  sobre o meio ambiente. Ela está recebendo uma série de participantes, muitos deles ilustres chefes de Estado, que veem ao Brasil para discutir os rumos que o mundo está tomando no que diz respeito ao meio ambiente. Nossa cidade é o lugar no mundo onde acontecem as discussões sobre o Desenvolvimento Sustentável de nosso planeta. Ou seja, como fazer para manter o ritmo acelerado de desenvolvimento das sociedades sem acabar com os recursos que retiramos da natureza. Tendo o tema "preservação" como chave de toda a questão que se apresenta, nós, do Núcleo de Arte Grande Otelo, propomos um desafio: levar nossos alunos  a conhecer uma parte histórica da origem da nossa cidade do Rio de Janeiro, através de uma aula passeio. Para que essa aula passeio fosse um sucesso, contamos com a parceria do projeto “Caminhos do Rio” da arquiteta Renata Faria Pereira. O projeto forneceu a todos os alunos um exemplar do caderno de atividades do passeio cultural à Praça XV de Novembro. O passeio, com a ajuda do caderno de atividades, incentiva os estudantes a conhecerem o espaço urbano e as construções mais antigas. Segundo Renata, a prática do passeio é um  instrumento de ensino-aprendizagem muito estimulante: “além de proporcionar novos conhecimentos, despertar o olhar dos estudantes para a beleza e a importância de  cidade, provocando-lhes o sentimento de apropriação fundamental para a defesa e a preservação dos espaços públicos”. Apropriação e responsabilidade pelo lugar onde vivemos! Responsabilidade e compromisso! Da preservação do lugar onde vivemos à preservação da natureza e do mundo!


E então, com esses sonhos em mente, guiados pelos professores Jabim Nunes e Márcia Cazer, tudo aconteceu no dia 23 de maio de 2012,


Os alunos iniciaram a aula passeio do projeto cultural CAMINHOS DO RIO junto ao chafariz do Mestre Valentim, na Praça XV de Novembro.

Explicaram a importância do monumento histórico setecentista, que foi preservado até os dias de hoje. Não existia água encanada naquele tempo, comentou o professor Jabim Nunes. O chafariz mais próximo era o do Largo da Carioca, cuja água foi trazida do Rio Carioca - lá do alto do Morro das Paineiras, junto ao Corcovado, por canaletas de pedra pelo Morro de Santa Teresa, passando pelos Arcos da Lapa, até chegar no antigo largo, que ficava no sopé do morro do Convento de Santo Antônio. Para atender à população da região, viu-se a necessidade de trazer a água do chafariz Largo da Carioca até o chafariz do Largo do Carmo. Para isso, em 1747, o Conde de Bobadela, Governador do Rio, colocou no meio do Largo do Carmo, um elegante chafariz importado de Lisboa, que jorrou a água do Rio Carioca. Mais tarde, em 1789, quando o cais do antigo Largo do Carmo estava pronto, deslocaram a tomada de água do chafariz do Bobadela para a beira do mar, construindo um chafariz novo, todo de pedra. O chafariz destinava-se a atender, principalmente, às embarcações, e servia também para matar a sede da população e dos animais, conforme observaram as crianças presentes. Mestre Valentim foi ao autor do projeto do novo chafariz de pedra, que hoje é uma referência na história da nossa cidade!
Contou-se também um pouquinho da história daquela Praça XV de Novembro e o que ela representa para a cidade do Rio de Janeiro. Antes de receber esse nome, a praça teve outros nomes: Várzea de N. Senhora do Ó, Largo do Carmo, Terreiro da Polé, Largo do Paço, Praça Dom Pedro ll e finalmente a atual Praça XV. No período colonial, as cenas mais tristes aconteceram nessa praça foi o açoite dos escravos. Por isso o primeiro nome desse lugar foi "Terreiro da Polé". Entretanto, foi no palácio dessa praça onde se deu a assinatura da Lei Áurea, que acabou com a escravidão no Brasil. A princesa Isabel, bisneta de D.João Vl, depois de assinar a Lei Áurea em um dos salões do palácio, foi ate a sacada da fachada principal do palácio. O povo que estava na praça aclamou a princesa que passou a ser chamada de "A Redentora

Os estudantes observaram a fachada das duas igrejas históricas da Praça XV de Novembro: a Igreja de Nossa Senhora do Carmo - Antiga Sé, e a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo.
Eles disseram que já conheciam as igrejas através das pesquisas e que sabiam da importância delas. A primeira, palco de grandes eventos, conhecida como Antiga Sé, testemunhou a aclamação de D.João VI, as coroações de D. Pedro l, D. Pedro ll, os casamentos dos príncipes e muitas outras importantes solenidades.

A monitora Denise Teixeira recebeu-nos na entrada da igreja



A história da igreja começou a partir dos primeiros anos de fundação da Cidade do Rio de Janeiro, com a vinda dos Carmelitas,  instalados por volta de 1590, numa antiga capela dos monges beneditinos, a de Nossa Senhora do Ó, depois chamada Capela da Ordem do Carmo. Em 1619, os frades carmelitas deram início à construção de seu novo convento, em terreno ao lado da capela, com dois andares. Em estado precário, a antiga capela desabou. Então, os frades construíram um novo templo. Por volta de 1761, eis que surge a nova Igreja - a de Nossa Senhora do Carmo!
Com ênfase e sabedoria, relatou detalhes importantes da história da arte e da arquitetura, do antigo templo. Falou que a igreja é composta de dois estilos:  rococó e neoclássico. O rococó, com extrema grandiosidade, é caracterizado pela delicadeza dos elementos decorativos, tais como: conchas, laços, flores, folhagens. Trata-se de uma arte que prima pelo requinte e elegância. O neoclássico, em composição simples, reafirma a glória e a grandeza clássica, sustentada por uma solenidade estética afirmada na busca de um equilíbrio que se opõe à desmedida dramática do barroco.
Suas características valorizam posicionamentos politicamente corretos para a manutenção dos interesses hegemônicos da época, tais como a ordem, a calma, a razão, a simplicidade  e a exatidão.

A obra da Igreja ficou a cargo do mestre Manuel Alves Setúbal, as talhas do interior são douradas em estilo rococó, de grande beleza, realizada por mestre Inácio Ferreire Pinto, em 1785.
O prédio foi completado apenas por volta de 1822 pelo  arquiteto português, Pedro Alexandre Cavroè, que deu ao edifício um frontão elevado em estilo neo-clássico

A fachada principal é um tanto assimétrica devido ao posicionamento da torre, longe do corpo central. Em dois, dos sete sinos no campanário, está gravado data da fabricação: 1623. Por volta de 1900, a fachada e a torre foram alteradas. Apenas o primeiro andar da fachada, com três portas em estilo pombalino lisboeta é ainda original. A estátua, em um nicho da fachada, representa o santo padroeiro da cidade, São Sebastião. A torre, reconstruída entre 1905 a 1913 pelo arquiteto italiano Rafael Rebecchi é encimada por uma estátua, em bronze, de Nossa Senhora da Conceição.

No interior, as paredes da nave única possuem uma série de capelas laterais profundas e separadas por pilastras sobre cada capela,

Há um balcão (tribuna) alternado por telas ovais com pintura dos apóstolos, de autoria do pintor colonial José Leandro de Carvalho.

O teto, de madeira curva, é subdividido em tramos que acompanham as divisórias da nave. Cada balcão traz uma abertura no teto (luneta) permitindo a entrada de luz natural.

No fundo da nave encontra-se a capela-mor, separada desta por arco-cruzeiro.

A decoração do interior é a principal atração artística do edifício, graças ao magnífico trabalho de talha dourada de feição rococó que cobre a capela-mor, arco-cruzeiro, capelas laterais, nave e teto.

A talha de grande unidade de estilo, executada a partir de 1785 pelo escultor Inácio Ferreira Pinto.

A estética rococó da talha é evidenciada pelo tipo e distribuição dos ornatos, repartidos em painéis com molduras douradas, que não chegam a cobrir toda a superfície, permitindo o contraste entre o dourado e os fundos brancos e transmitindo uma sensação de elegância.


Durante as explicações, nossos alunos ficaram tão entusiasmados ao ponto da monitora  abrir as portas do tesouro arqueológico ”visto por poucos” e o jazigo que fica em baixo da Capela do Santíssimo, encontram –se depositados desde 1903, em uma urna de chumbo, parte dos restos mortais  de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, que jazem na Igreja a Santa Maria da Graça, Santarém, Portugal e o do Cardeal Arco Verde, responsável pela grande reforma arquitetônica da igreja.
Partiu-se para a segunda  igreja - a da  Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, construída entre 1755 a 1770.


Ao adentrar, os alunos puderam conhecer o tão esperado trabalho de Mestre Valentim.  

Nesse momento, quando todos os alunos estavam com o caderno de atividades "Caminhos do Rio", Márcia Cazer apresentou o texto da publicação: "Construída por devotos de Nossa Senhora do Carmo, reunidos em irmandade em 1648, a igreja guarda valioso legado da arte do Mestre Valentim que executou, entre 1772  a 1800, trabalhos decorativos de madeira, prata e pedra, com riqueza de detalhes de refinado bom gosto.
Artista carioca, filho de escrava, Mestre Valentim, aprimorou-se na arte de desenho e escultura. Ele realizou varias obras no Rio".
Os alunos, além de se encantarem com luxo da igreja, tinham ainda outra surpresa que os aguardava: a oportunidade quase inédita de conhecer lá nos fundos, a Capela do Noviciado, obra prima do Mestre Valentim.

Antes da capela, na sacristia, puderam conhecer uma linda pia, toda esculpida na pedra! O olhar testemunha o belo: por um estreito corredor desemboca num portão torneado, enfim, a Capela do Noviciado

 Criação do Mestre Valentim, um dos melhores exemplos da arte rococó brasileira.

Espaço sagrado, as obras expressam a força e a pureza de Deus.





Todos ficaram maravilhados.

O passeio continuou pelo Paço Imperial, onde o grupo fez uma pausa para o lanche. Depois, observaram as partes mais antigas do prédio: a Casa da Moeda, cuja  construção remonta o fim do século XVII, 1699, quando havia naquele local um forno para fundir o ouro proveniente das Minas Gerais. A Casa da Moeda, próxima do mar, também servia para controlar o transporte do ouro para Portugal. Por determinação Real, todo ouro retirado das Minas Gerais tinha que vir para o Rio, em seguida pesado, derretido, transformado em barra, enviado, com um grande controle, ao Rei de Portugal.

Ao lado do antigo forno, os alunos viram uma outra  construção, essa  datada de 1713, com o nome de Armazém Del Rey, que servia para guardar armas e munições reais, depois usado como cocheira para cavalos e garagem das carruagem.




Continuando as descobertas, os alunos manusearam painéis interativos de uma exposição sobre a história do Paço Imperial, que apresentava uma narrativa cheia de imagens e textos da  colonização até os dias atuais.

Aproximando do término da aula/passeio foram conduzidos ao salão principal do prédio, onde conheceram a funcionalidade dos antigos arcos de pedra carruagem reais. Puderam analisar também a maquete do Centro do Rio na arquitetura daquela época. Observaram o piso de pedras para a passagem das.


 Depois, viram que foi preservado, lá do outro lado da praça, uma parte de um prédio muito importante - o casarão da família Teles! E nesse pedaço que foi preservado ficou o famoso Arco do Teles. O arco é uma reminiscência do século XVIII e o último dos muitos arcos que existiam na cidade. Construído segundo projeto do brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, o mesmo engenheiro militar que projetou a Casa dos Governadores - hoje Paço Imperial, disse a professora Márcia. No tempo dos vice-reis, o Arco do Teles era frequentado por muitos passantes que vinham atraídos pela imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, colocada em um nicho no interior do arco.

Em 1790, um incêndio destruiu a maior parte da casa da família Teles, restando somente a parte que hoje constitui o Arco do Teles.
Depois de tantas descobertas, os alunos posaram para uma foto panorâmica, tendo como cenário principal a fachada do Paço Imperial, local onde a Princesa Isabel, num dia memorável, assinou a Lei Áurea, emocionando a todos, inclusive ao pai, D.Pedro II, imperador que demonstrou, por toda sua vida, um amor imensurável ao povo brasileiro e ao Rio de Janeiro - cartão postal do Brasil e capital da cultura nacional.



Com a certeza de que nada será como antes, despedimo-nos da Praça XV de Novembro.


Eu, Laíse Pacheco, Chefe I, e Luciana Almeida, auxiliar de chefia, com imenso carinho, agradecemos a todos que não mediram esforços para que o passeio cultural do projeto CAMINHOS DO RIO acontecesse, entre eles, as  nossas coordenadoras, Rejane Farias e Rita Aguiar, a Gerente da GED -  Kátia  Barboza e sua equipe, a Sala de Leitura Polo do Ciep Oswald de Andrade, pela constante parceria, em especial, Márcia Cazer Fernandes, Eliane Pimenta, Andréa Fidelis,juntamente com Mônica Rocha,  aos professores e guias da Antiga Sé, Rosa, Denise e Joge, pela compreensão, carinho e dedicação. À amiga professora e arquiteta Renata de Faria Pereira, criadora e responsável pelo projeto "Caminhos do Rio", ao zelador Sr. Florentino, da igreja da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, aos zeladores Sra. Luis e  Sra. Vera da Igreja da Terceira Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, bem como aos administradores Sr. Eliezer e Sr. Rubem e do Paço Imperial, e ao Sr. José Cícero Nascimento , motorista que nos conduziu de ônibus,a costureira Maria da Conceição Almeida, pela doação das bolsas amarelas, ao pequeno fotógrafo Caio Ribeiro de Lima.  Aos professores do Núcleo de Arte, Ademir Vieira, Ellen  Aniszewski  e Jabim Nunes. Aos pais de nossos alunos, pela confiança depositada em nós, professores! A todos: nosso muitíssimo obrigado!

Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Um comentário:

  1. Gente, o blog continua lindo!!! E o Projeto da escritora Renata, nossa parceira de longa data, ainda mais apaixonante... Precisamos ampliar o número de pessoas conhecedoras da Arte do nosso Rio de Janeiro. Que todas se juntem a nós e digam "nada será como antes" depois de tamanha experiência!!!
    Abraços

    ResponderExcluir