“O
espaço urbano é um dos mais eloquentes registros da historia de nossa
sociedade. Como os documentos escritos, também as construções
representam testemunhos de um tempo que passou" (Renata de Faria Pereira).
Nossa cidade do Rio de
Janeiro é a sede da Rio + 20 - Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente. Ela está recebendo uma
série de participantes, muitos deles ilustres chefes de Estado, que veem ao
Brasil para discutir os rumos que o mundo está tomando no que diz respeito ao
meio ambiente. Nossa cidade é o lugar no mundo onde acontecem as discussões
sobre o Desenvolvimento Sustentável de nosso planeta. Ou seja, como fazer para
manter o ritmo acelerado de desenvolvimento das sociedades sem acabar com os
recursos que retiramos da natureza. Tendo o tema "preservação" como
chave de toda a questão que se apresenta, nós, do Núcleo de Arte Grande Otelo,
propomos um desafio: levar nossos alunos
a conhecer uma parte histórica da origem da nossa cidade do Rio de
Janeiro, através de uma aula passeio. Para que essa aula passeio fosse um
sucesso, contamos com a parceria do projeto “Caminhos do Rio” da arquiteta
Renata Faria Pereira. O projeto forneceu a todos os alunos um exemplar do
caderno de atividades do passeio cultural à Praça XV de Novembro. O passeio,
com a ajuda do caderno de atividades, incentiva os estudantes a conhecerem o
espaço urbano e as construções mais antigas. Segundo Renata, a prática do
passeio é um instrumento de
ensino-aprendizagem muito estimulante: “além de proporcionar novos
conhecimentos, despertar o olhar dos estudantes para a beleza e a importância
de cidade, provocando-lhes o sentimento
de apropriação fundamental para a defesa e a preservação dos espaços públicos”.
Apropriação e responsabilidade pelo lugar onde vivemos! Responsabilidade e
compromisso! Da preservação do lugar onde vivemos à preservação da natureza e
do mundo!
E então, com esses
sonhos em mente, guiados pelos professores Jabim Nunes e Márcia Cazer, tudo
aconteceu no dia 23 de maio de 2012,
Os alunos iniciaram a aula passeio do projeto cultural
CAMINHOS DO RIO junto ao chafariz do Mestre Valentim, na Praça XV de Novembro.
Explicaram a importância do
monumento histórico setecentista, que foi preservado até os dias de hoje. Não
existia água encanada naquele tempo, comentou o professor Jabim Nunes. O
chafariz mais próximo era o do Largo da Carioca, cuja água foi trazida do Rio
Carioca - lá do alto do Morro das Paineiras, junto ao Corcovado, por canaletas
de pedra pelo Morro de Santa Teresa, passando pelos Arcos da Lapa, até chegar
no antigo largo, que ficava no sopé do morro do Convento de Santo Antônio. Para
atender à população da região, viu-se a necessidade de trazer a água do chafariz
Largo da Carioca até o chafariz do Largo do Carmo. Para isso, em 1747, o Conde
de Bobadela, Governador do Rio, colocou no meio do Largo do Carmo, um elegante
chafariz importado de Lisboa, que jorrou a água do Rio Carioca. Mais tarde, em
1789, quando o cais do antigo Largo do Carmo estava pronto, deslocaram a tomada
de água do chafariz do Bobadela para a beira do mar, construindo um chafariz
novo, todo de pedra. O chafariz destinava-se a atender, principalmente, às
embarcações, e servia também para matar a sede da população e dos animais,
conforme observaram as crianças presentes. Mestre Valentim foi ao autor do
projeto do novo chafariz de pedra, que hoje é uma referência na história da
nossa cidade!
Contou-se também um
pouquinho da história daquela Praça XV de Novembro e o que ela representa para
a cidade do Rio de Janeiro. Antes de receber esse nome, a praça teve outros
nomes: Várzea de N. Senhora do Ó, Largo do Carmo, Terreiro da Polé, Largo do
Paço, Praça Dom Pedro ll e finalmente a atual Praça XV. No período colonial, as
cenas mais tristes aconteceram nessa praça foi o açoite dos escravos. Por isso
o primeiro nome desse lugar foi "Terreiro da Polé". Entretanto, foi
no palácio dessa praça onde se deu a assinatura da Lei Áurea, que acabou com a
escravidão no Brasil. A princesa Isabel, bisneta de D.João Vl, depois de
assinar a Lei Áurea em um dos salões do palácio, foi ate a sacada da fachada
principal do palácio. O povo que estava na praça aclamou a princesa que passou
a ser chamada de "A Redentora
Os estudantes observaram a
fachada das duas igrejas históricas da Praça XV de Novembro: a Igreja de Nossa
Senhora do Carmo - Antiga Sé, e a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do
Monte do Carmo.
Eles disseram que já
conheciam as igrejas através das pesquisas e que sabiam da importância delas. A
primeira, palco de grandes eventos, conhecida como Antiga Sé, testemunhou a
aclamação de D.João VI, as coroações de D. Pedro l, D. Pedro ll, os casamentos
dos príncipes e muitas outras importantes solenidades.
A monitora Denise Teixeira
recebeu-nos na entrada da igreja
A história da igreja começou a partir dos
primeiros anos de fundação da Cidade do Rio de Janeiro, com a vinda dos
Carmelitas, instalados por volta de
1590, numa antiga capela dos monges beneditinos, a de Nossa Senhora do Ó,
depois chamada Capela da Ordem do Carmo. Em 1619, os frades carmelitas deram
início à construção de seu novo convento, em terreno ao lado da capela, com
dois andares. Em estado precário, a antiga capela desabou. Então, os frades
construíram um novo templo. Por volta de 1761, eis que surge a nova Igreja - a
de Nossa Senhora do Carmo!
Com ênfase e sabedoria,
relatou detalhes importantes da história da arte e da arquitetura, do antigo
templo. Falou que a igreja é composta de dois estilos: rococó e neoclássico. O rococó, com extrema
grandiosidade, é caracterizado pela delicadeza dos elementos decorativos, tais
como: conchas, laços, flores, folhagens. Trata-se de uma arte que prima pelo
requinte e elegância. O neoclássico, em composição simples, reafirma a glória e
a grandeza clássica, sustentada por uma solenidade estética afirmada na busca
de um equilíbrio que se opõe à desmedida dramática do barroco.
Suas características valorizam
posicionamentos politicamente corretos para a manutenção dos interesses
hegemônicos da época, tais como a ordem, a calma, a razão, a simplicidade e a exatidão.
A obra da Igreja ficou a
cargo do mestre Manuel Alves Setúbal, as talhas do interior são douradas em
estilo rococó, de grande beleza, realizada por mestre Inácio Ferreire Pinto, em
1785.
O prédio foi
completado apenas por volta de 1822 pelo
arquiteto português, Pedro Alexandre Cavroè, que deu ao edifício um
frontão elevado em estilo neo-clássico
A fachada principal é um tanto assimétrica
devido ao posicionamento da torre, longe do corpo central. Em dois, dos sete
sinos no campanário, está gravado data da fabricação: 1623. Por volta de 1900,
a fachada e a torre foram alteradas. Apenas o primeiro andar da fachada, com três
portas em estilo pombalino lisboeta é ainda original. A estátua, em um nicho da
fachada, representa o santo padroeiro da cidade, São Sebastião. A torre,
reconstruída entre 1905 a 1913 pelo arquiteto italiano Rafael Rebecchi é encimada
por uma estátua, em bronze, de Nossa Senhora da Conceição.
No interior, as paredes da nave única possuem uma série
de capelas laterais profundas e separadas por pilastras sobre cada capela,
Há um balcão (tribuna) alternado por telas ovais com
pintura dos apóstolos, de autoria do pintor colonial José Leandro de Carvalho.
O teto, de madeira curva, é subdividido em tramos que
acompanham as divisórias da nave. Cada balcão traz uma abertura no teto
(luneta) permitindo a entrada de luz natural.
No fundo da nave encontra-se a capela-mor, separada desta
por arco-cruzeiro.
A decoração do interior é a principal atração artística
do edifício, graças ao magnífico trabalho de talha dourada de feição rococó que
cobre a capela-mor, arco-cruzeiro, capelas laterais, nave e teto.
A talha de grande unidade de estilo, executada a partir
de 1785 pelo escultor Inácio Ferreira Pinto.
A estética rococó da talha é evidenciada pelo tipo e distribuição dos
ornatos, repartidos em painéis com molduras douradas, que não chegam a cobrir
toda a superfície, permitindo o contraste entre o dourado e os fundos brancos e
transmitindo uma sensação de elegância.
Durante as explicações, nossos alunos ficaram tão
entusiasmados ao ponto da monitora abrir
as portas do tesouro arqueológico ”visto por poucos” e o jazigo que fica em
baixo da Capela do Santíssimo, encontram –se depositados desde 1903, em uma
urna de chumbo, parte dos restos mortais
de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, que jazem na Igreja a
Santa Maria da Graça, Santarém, Portugal e o do Cardeal Arco Verde, responsável
pela grande reforma arquitetônica da igreja.
Partiu-se para a segunda
igreja - a da Ordem Terceira de
Nossa Senhora do Monte do Carmo, construída entre 1755 a 1770.
Ao adentrar, os alunos puderam conhecer o tão esperado
trabalho de Mestre Valentim.
Nesse momento, quando todos
os alunos estavam com o caderno de atividades "Caminhos do Rio",
Márcia Cazer apresentou o texto da publicação: "Construída por devotos de
Nossa Senhora do Carmo, reunidos em irmandade em 1648, a igreja guarda valioso
legado da arte do Mestre Valentim que executou, entre 1772 a 1800, trabalhos decorativos de madeira,
prata e pedra, com riqueza de detalhes de refinado bom gosto.
Artista carioca, filho de escrava, Mestre Valentim,
aprimorou-se na arte de desenho e escultura. Ele realizou varias obras no
Rio".
Os alunos, além de se encantarem com luxo da igreja,
tinham ainda outra surpresa que os aguardava: a oportunidade quase inédita de
conhecer lá nos fundos, a Capela do Noviciado, obra prima do Mestre Valentim.
Antes da capela, na sacristia, puderam conhecer uma linda
pia, toda esculpida na pedra! O olhar testemunha o belo: por um estreito
corredor desemboca num portão torneado, enfim, a Capela do Noviciado
Criação do Mestre Valentim,
um dos melhores exemplos da arte rococó brasileira.
Espaço sagrado, as obras expressam a força e a pureza de
Deus.
Todos ficaram maravilhados.
O passeio continuou pelo
Paço Imperial, onde o grupo fez uma pausa para o lanche. Depois, observaram as
partes mais antigas do prédio: a Casa da Moeda, cuja construção remonta o fim do século XVII,
1699, quando havia naquele local um forno para fundir o ouro proveniente das Minas
Gerais. A Casa da Moeda, próxima do mar, também servia para controlar o
transporte do ouro para Portugal. Por determinação Real, todo ouro retirado das
Minas Gerais tinha que vir para o Rio, em seguida pesado, derretido,
transformado em barra, enviado, com um grande controle, ao Rei de Portugal.
Ao lado do antigo forno, os alunos viram uma outra construção, essa datada de 1713, com o nome de Armazém Del
Rey, que servia para guardar armas e munições reais, depois usado como cocheira
para cavalos e garagem das carruagem.
Continuando as descobertas,
os alunos manusearam painéis interativos de uma exposição sobre a história do
Paço Imperial, que apresentava uma narrativa cheia de imagens e textos da colonização até os dias atuais.
Aproximando do término da aula/passeio foram conduzidos ao salão
principal do prédio, onde conheceram a funcionalidade dos antigos arcos de
pedra carruagem reais. Puderam analisar também a maquete do Centro do Rio na
arquitetura daquela época. Observaram o piso de pedras para a passagem das.
Depois, viram que foi preservado, lá do outro
lado da praça, uma parte de um prédio muito importante - o casarão da família
Teles! E nesse pedaço que foi preservado ficou o famoso Arco do Teles. O arco é
uma reminiscência do século XVIII e o último dos muitos arcos que existiam na
cidade. Construído segundo projeto do brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, o
mesmo engenheiro militar que projetou a Casa dos Governadores - hoje Paço
Imperial, disse a professora Márcia. No tempo dos vice-reis, o Arco do Teles
era frequentado por muitos passantes que vinham atraídos pela imagem de Nossa
Senhora dos Prazeres, colocada em um nicho no interior do arco.
Em 1790, um incêndio destruiu a maior parte da
casa da família Teles, restando somente a parte que hoje constitui o Arco do
Teles.
Depois de tantas
descobertas, os alunos posaram para uma foto panorâmica, tendo como cenário
principal a fachada do Paço Imperial, local onde a Princesa Isabel, num dia
memorável, assinou a Lei Áurea, emocionando a todos, inclusive ao pai, D.Pedro
II, imperador que demonstrou, por toda sua vida, um amor imensurável ao povo
brasileiro e ao Rio de Janeiro - cartão postal do Brasil e capital da cultura
nacional.
Com a certeza de que nada será como antes, despedimo-nos
da Praça XV de Novembro.
Eu, Laíse Pacheco, Chefe I, e Luciana Almeida, auxiliar
de chefia, com imenso carinho, agradecemos a todos que não mediram esforços
para que o passeio cultural do projeto CAMINHOS DO RIO acontecesse, entre eles,
as nossas coordenadoras, Rejane Farias e
Rita Aguiar, a Gerente da GED -
Kátia Barboza e sua equipe, a
Sala de Leitura Polo do Ciep Oswald de Andrade, pela constante parceria, em
especial, Márcia Cazer Fernandes, Eliane Pimenta, Andréa Fidelis,juntamente com
Mônica Rocha, aos professores e guias da
Antiga Sé, Rosa, Denise e Joge, pela compreensão, carinho e dedicação. À amiga
professora e arquiteta Renata de Faria Pereira, criadora e responsável pelo
projeto "Caminhos do Rio", ao zelador Sr. Florentino, da igreja da
Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, aos zeladores Sra. Luis e Sra. Vera da Igreja da Terceira Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Carmo, bem como aos administradores Sr. Eliezer e
Sr. Rubem e do Paço Imperial, e ao Sr. José Cícero Nascimento , motorista que
nos conduziu de ônibus,a costureira Maria da Conceição Almeida, pela doação das
bolsas amarelas, ao pequeno fotógrafo Caio Ribeiro de Lima. Aos professores do Núcleo de Arte, Ademir
Vieira, Ellen Aniszewski e Jabim Nunes. Aos pais de nossos alunos,
pela confiança depositada em nós, professores! A todos: nosso muitíssimo
obrigado!
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